
Introdução
J.R.R. Tolkien, renomado autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit, também foi um acadêmico de destaque na área de literatura medieval. Sua relação com o poema épico anglo-saxão Beowulf é central para entender tanto sua produção literária quanto suas ideias sobre mitologia e narrativa. Neste artigo, exploramos como Tolkien foi inspirado por Beowulf, examinando temas, personagens, mitologia, palavras e as conexões geográficas e culturais entre Dinamarca, Suécia e Inglaterra.
Tolkien e Beowulf: Um Estudo Acadêmico e Literário
Tolkien não apenas estudou Beowulf profundamente, mas também o interpretou de forma única. Em sua palestra de 1936, intitulada “Beowulf: The Monsters and the Critics“, ele argumentou que o poema deveria ser apreciado como uma obra de arte, e não apenas como um documento histórico. Ele enfatizou a luta heroica contra forças caóticas (representadas por monstros como Grendel) como o coração do poema.
Essa visão influenciou sua própria abordagem narrativa. Em O Senhor dos Anéis, vemos uma tensão semelhante entre a ordem e o caos, a luta de personagens heroicos contra forças sombrias que ameaçam o equilíbrio do mundo.
Elementos e Características Compartilhados
- Heróis e Monstros
Assim como Beowulf enfrenta Grendel, sua mãe e o dragão, os heróis de Tolkien confrontam orcs, trolls, balrogs e Smaug. Esses confrontos personificam a luta entre bem e mal, coragem e medo. - Destino e Fatalismo
A ideia de wyrd (destino inevitável) em Beowulf ecoa na obra de Tolkien. Aragorn, por exemplo, aceita sua responsabilidade como rei com uma dignidade que reflete essa mentalidade heroica anglo-saxã. - O Papel da Comunalidade
Em Beowulf, os salões como Heorot simbolizam a união e a cultura dos povos. Em Tolkien, o Condado e Rivendell desempenham papéis similares como refúgios de civilização e memória cultural.
Orcs e a Mitologia Germânica
Os orcs de Tolkien têm uma relação indireta com as criaturas monstruosas de Beowulf. Embora o poema não mencione especificamente “orcs”, ele descreve “monstros de formas negras” que habitam os pântanos e ameaçam os humanos. Tolkien adaptou essas descrições, combinando-as com a mitologia germânica para criar os orcs como servos do mal.
Além disso, o uso de línguas criadas por Tolkien, como o sindarin e o queniano, ecoa o amor por etimologia e evolução linguística presente em sua análise de Beowulf. A palavra “orc” em si tem raízes em termos antigos como o latim orcus (relacionado à morte e ao submundo).
Geografia e Conexões Históricas
- Dinamarca e Suécia
Os eventos de Beowulf estão ambientados em regiões que correspondem à Dinamarca e Suécia modernas. O poema menciona reis e tribos históricas, como os escandinavos e os geats, conectando-o à história real dessas terras. - Inglaterra e a Herança Anglo-Saxã
Beowulf foi composto na Inglaterra anglo-saxônica, embora sua história remeta à Escandinávia. Tolkien viu nisso uma ponte entre as culturas germânica e britânica, refletindo o movimento cultural de sua própria obra.
Palavras, Significados e Efeitos Literários
Tolkien considerava a escolha e o significado das palavras essenciais para criar um mundo crível. Em Beowulf, o uso de kennings (expressões poéticas compostas) e aliteração influenciou o estilo de Tolkien. Por exemplo, expressões como “pathless woods” e “shadowy mountains” em O Senhor dos Anéis evocam a mesma atmosfera épica de Beowulf.
Conclusão
A relação de Tolkien com Beowulf vai além da inspiração; ela é um diálogo entre o passado e o presente, entre a mitologia e a literatura moderna. Ao reinterpretar temas e elementos de Beowulf, Tolkien não apenas revitalizou a tradição anglo-saxã, mas também criou uma mitologia que continua a ressoar com leitores em todo o mundo.
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