A Época Selêucida: Antíoco e Antioquias

Hasmoneus, Macabeus, Piedosos, Justos, Separados, Helenistas e Idumeus

A época selêucida se refere ao período histórico dominado pela dinastia selêucida, que governou grandes partes do Império Macedônico após a morte de Alexandre, o Grande. O império selêucida foi fundado por Seleuco I Nicator, um dos generais de Alexandre, e se estendeu por vastas regiões do Oriente Médio, incluindo a Mesopotâmia, a Síria, a Pérsia e partes da Ásia Central.

A dinastia selêucida durou de 312 a.C. até 63 a.C., quando o império foi finalmente absorvido pelo Império Romano. Durante este período, o império foi marcado por uma série de desafios internos e externos, como guerras com os ptolomeus do Egito, a luta contra os Partas (uma potência do Irã) e diversas rebeliões em suas províncias.

Os selêucidas eram conhecidos por sua tentativa de helenizar (ou seja, difundir a cultura grega) as regiões sob seu controle, o que gerou tanto resistência local quanto uma fusão cultural entre as tradições gregas e as orientais. Essa fusão ajudou a formar o que é conhecido como “cultura helenística”, que teve um impacto duradouro na arte, filosofia e política do mundo antigo.

Entre os momentos significativos da história selêucida, destaca-se o reinado de Antíoco IV Epifânio, que tentou impor a cultura grega de forma mais rígida, resultando em revoltas como a revolta dos Macabeus, que é uma das histórias mais conhecidas da época.

O legado selêucida também pode ser visto na cidade de Antioquia, que se tornou um dos maiores centros culturais e comerciais do mundo helenístico.

Nesta época existiram várias cidades chamadas Antioquia, sendo as mais notáveis fundadas durante o período helenístico e românico. As mais importantes são:

  1. Antioquia no Orontes (Antioquia de Síria): Esta é a cidade mais famosa com esse nome, fundada por Seleuco I Nicator, o fundador da dinastia selêucida, por volta de 300 a.C. Ela foi uma das maiores e mais prósperas cidades do Império Romano e um dos centros culturais e comerciais do mundo helenístico e romano. Foi também uma importante sede do cristianismo primitivo, sendo a cidade onde os seguidores de Jesus foram pela primeira vez chamados de “cristãos” (Atos 11:26).
  2. Antioquia da Pisídia: Localizada na região montanhosa da Pisídia, na atual Turquia, esta cidade foi um importante centro comercial e militar no Império Romano. Ela aparece em várias passagens do Novo Testamento, especialmente nas viagens missionárias de Paulo, e foi uma das primeiras cidades a ser evangelizada por ele.
  3. Antioquia de Isauria: Situada na região montanhosa da Isauria (também na atual Turquia), essa cidade foi parte do Império Romano e teve um papel menos destacado, mas ainda assim significante, na época antiga.

Além dessas, houve outras cidades menores com o nome Antioquia, especialmente na região do Império Romano, mas as três acima são as mais conhecidas e influentes.

Essas cidades foram fundadas ou remodeladas para espalhar a cultura grega e helenística, e muitas se tornaram importantes centros de comércio, religião e administração.

O nome “Antioquia” foi dado em homenagem a Antíoco, o pai de Seleuco I Nicator. Antíoco era um rei macedônio da dinastia dos Seleúcidas, e o nome da cidade de Antioquia foi uma forma de honrar a sua figura. Seleuco, ao fundar a cidade de Antioquia no Orontes por volta de 300 a.C., escolheu esse nome em memória do pai, que foi uma figura importante na ascensão e expansão do Império Macedônico após a morte de Alexandre, o Grande.

A prática de nomear cidades em homenagem a membros da família real ou figuras importantes era comum no período helenístico, como uma maneira de fortalecer a autoridade e a legitimidade da dinastia no domínio das novas regiões conquistadas. Assim, várias cidades fundadas ou reformadas pelos Selêucidas e outros governantes helenísticos acabaram recebendo o nome de Antioquia, em referência a Antíoco.

Alexandria também seguiu uma prática semelhante, sendo várias cidades com esse nome fundadas ou renomeadas em homenagem a Alexandre, o Grande. Durante as campanhas de Alexandre, ele fundou ou reformou várias cidades, muitas das quais receberam o nome dele como forma de consolidar seu legado e expandir sua influência cultural e política.

A cidade mais famosa é, sem dúvida, Alexandria no Egito, fundada por Alexandre em 331 a.C. durante sua campanha de conquista no Egito. Ela se tornou uma das maiores e mais importantes cidades do mundo antigo, um centro de aprendizado, comércio e cultura, e um símbolo duradouro do legado de Alexandre. Alexandria foi o local da famosa Biblioteca de Alexandria, um dos maiores centros de conhecimento da antiguidade.

Além de Alexandria no Egito, Alexandre fundou ou renomeou várias outras cidades com seu nome, como Alexandria da Cáspia (na atual região do Cáucaso), Alexandria Eschate (no atual Tajiquistão) e outras em várias partes do império que ele conquistou, de modo a espalhar o nome e a cultura helenística.

Esse uso do nome “Alexandria” ajudava a consolidar a imagem de Alexandre como o grande conquistador e líder de um império vasto, criando uma rede de cidades que uniam diversas culturas sob o ideal helenístico.

Antes de ser fundada por Alexandre, o Grande, a região onde Alexandria no Egito foi estabelecida era conhecida como Rakhotis. Rakhotis era um pequeno vilarejo de pescadores localizado no delta do rio Nilo, na costa mediterrânea.

Quando Alexandre chegou ao Egito em 332 a.C., ele escolheu essa área estratégica para fundar uma nova cidade que serviria como um centro comercial e cultural de sua vasto império. A cidade foi projetada para ser um ponto de conexão entre o mundo grego e o Egito, e rapidamente se tornou uma das cidades mais influentes da antiguidade, com sua famosa biblioteca, o Farol de Alexandria e um porto próspero. O nome “Alexandria” foi dado em homenagem a Alexandre, que desejava deixar um legado duradouro na região que conquistara.


Durante o período selêucida, o mundo grego estava imerso no que é conhecido como a Era Helenística, uma época de grandes mudanças políticas e culturais após a morte de Alexandre, o Grande. Nesse período, várias correntes filosóficas floresceram e filósofos influentes surgiram, refletindo as novas realidades sociais, políticas e culturais. A filosofia helenística teve uma grande importância tanto para o mundo grego quanto para o pensamento ocidental subsequente.

Aqui estão alguns dos filósofos mais importantes e as correntes filosóficas da época:

1. Estoicismo

O estoicismo foi fundado por Zenão de Cítio por volta de 300 a.C., e teve grande influência durante o período selêucida.

  • Zenão de Cítio (aproximadamente 334-262 a.C.): Zenão foi o fundador da escola estoica. Ele propôs que a felicidade humana só poderia ser alcançada por meio da virtude e do controle das paixões, uma visão que se baseava na ideia de viver em conformidade com a razão e a natureza.
  • Epicteto (c. 55-135 d.C.), Sêneca (c. 4 a.C. – 65 d.C.) e Marco Aurélio (121–180 d.C.) foram outros filósofos estoicos importantes que desenvolveram a doutrina ao longo dos séculos. Embora estes filósofos sejam posteriores ao período selêucida, a escola estoica teve início no século III a.C. e influenciou profundamente o pensamento de várias gerações.

Princípios principais:

  • O estoicismo ensinava que a verdadeira felicidade não dependia de riquezas, status ou circunstâncias externas, mas da virtude e do controle interno.
  • A filosofia também enfatizava a aceitação do destino e a importância de viver em harmonia com a natureza e a razão universal.

2. Ceticismo

O ceticismo era uma corrente filosófica que questionava a possibilidade do conhecimento verdadeiro e defendia a suspensão do juízo.

  • Pirro de Élis (c. 360-270 a.C.): Pirro é considerado o fundador do ceticismo filosófico. Ele acreditava que, como não se podia ter certeza de nada, a única maneira de alcançar a tranquilidade era suspender as opiniões e aceitar as coisas como elas são, sem tentar compreendê-las completamente.
  • Os céticos argumentavam que os seres humanos não podiam alcançar certeza absoluta sobre o mundo e, portanto, o melhor caminho era viver com um senso de “imperturbabilidade”, ou seja, manter a calma diante da incerteza.

Princípios principais:

  • A dúvida sobre a possibilidade de conhecer a realidade tal como ela é.
  • A busca pela tranquilidade mental através da suspensão do juízo.

3. Epicurismo

O epicurismo foi fundado por Epicuro (341-270 a.C.) e se tornou uma das filosofias mais populares durante a era helenística, incluindo o período dos selêucidas.

  • Epicuro: Epicuro defendia que o objetivo da vida humana era buscar o prazer e evitar a dor, com ênfase no prazer mental e na ausência de sofrimento. Para ele, a felicidade era alcançada por meio de uma vida simples, focada em amizades e na busca do conhecimento.
  • Ele também acreditava que os deuses não interferiam nas questões humanas e que a morte não deveria ser temida, pois não há sensação após a morte.

Princípios principais:

  • A busca do prazer como o bem supremo, mas entendido como a ausência de dor e sofrimento.
  • A vida tranquila e simples, baseada em amizades e em evitar o sofrimento desnecessário.

4. Peripateticismo (Escola de Aristóteles)

A escola peripatética, fundada por Aristóteles, continuou a ser influente durante o período helenístico.

  • Aristóteles (384-322 a.C.): Embora Aristóteles tenha vivido antes da época dos selêucidas, suas ideias continuaram a ter grande influência na filosofia helenística. Ele desenvolveu uma abordagem sistemática e empírica para entender o mundo, focando nas causas e nos princípios da natureza.
  • Teofrasto (371–287 a.C.): Discípulo de Aristóteles, Teofrasto tornou-se líder da escola peripatética. Ele escreveu sobre ética, lógica, botânica e outras áreas do conhecimento, sendo uma figura importante na continuidade do pensamento aristotélico.

Princípios principais:

  • A ênfase na razão e na observação empírica para compreender o mundo natural.
  • A busca pelo “bem viver” através da virtude, com um foco no equilíbrio e na moderação.

5. Neoplatonismo (em desenvolvimento)

Embora o neoplatonismo tenha se desenvolvido após o período selêucida, com filósofos como Plotino (c. 204-270 d.C.), suas raízes podem ser rastreadas até o platonismo e influências que começaram a se consolidar durante a época helenística.

  • Platão (427-347 a.C.): O pensamento de Platão continuou a ser estudado e interpretado por diversas escolas durante o período helenístico. Sua teoria das Ideias ou Formas (onde a realidade verdadeira é transcendental e separada do mundo sensível) inspirou muitos filósofos que viriam depois, como os neoplatônicos.

Princípios principais:

  • A crença em um mundo transcendental de Ideias ou Formas como a verdadeira realidade.
  • A busca pela união da alma humana com o “Uno”, a realidade última.

6. Cinismo

Os cínicos também foram influentes durante a época helenística.

  • Diógenes de Sinope (c. 412-323 a.C.): Diógenes foi um dos filósofos cínicos mais conhecidos. Ele pregava uma vida simples e austera, rejeitando os bens materiais, as convenções sociais e as preocupações com a fama e a riqueza. Sua filosofia enfatizava a autossuficiência e a virtude como as verdadeiras fontes de felicidade.

Princípios principais:

  • A rejeição das normas sociais e culturais.
  • A busca pela autossuficiência e liberdade interior.

Resumo das Correntes Filosóficas:

  • Estoicismo: Enfatiza a virtude, o controle das paixões e a aceitação do destino.
  • Ceticismo: Defende a suspensão do juízo devido à dúvida sobre o conhecimento verdadeiro.
  • Epicurismo: Foca na busca do prazer, especialmente o prazer intelectual, e na ausência de sofrimento.
  • Peripateticismo: Enfatiza a observação empírica, a razão e a busca pela virtude e equilíbrio.
  • Neoplatonismo (em desenvolvimento): Inspirado por Platão, busca a união da alma com a realidade transcendental.
  • Cinismo: Rejeita as convenções sociais e busca a autossuficiência.

Essas correntes filosóficas influenciaram profundamente o pensamento do mundo helenístico e, ao longo do tempo, moldaram muitos dos princípios fundamentais do pensamento ocidental.


Os Hasmoneus foram uma dinastia judaica que governou a Judeia e outras regiões ao redor, entre 140 a.C. e 37 a.C., após a revolta dos Macabeus, um movimento de resistência contra o domínio selêucida. Eles são conhecidos por estabelecer uma dinastia independente que durou cerca de 70 anos e teve grande impacto na história judaica e na relação entre judeus e potências externas, como os romanos.

1. Significado e Etimologia

O nome Hasmoneu vem de Hasmoneu (ou Hasmoneu, dependendo da transcrição), o nome de uma das famílias fundadoras da dinastia, provavelmente um ancestral que deu origem ao movimento macabeu. A etimologia exata do nome é incerta, mas a palavra “Hasmoneu” pode ser relacionada à expressão hebraica “Hasmon” ou “Hasmona”, que tem possíveis raízes associadas a um nome próprio ou ao termo “corte” ou “juiz”.

2. Origem e Fundação

A dinastia Hasmoneia tem origem na revolta dos Macabeus (ou Hasmoneus) no século II a.C., liderada por Judas Macabeu e seus irmãos, contra a tentativa de helenização e as imposições religiosas do império selêucida. A revolta começou em 167 a.C., quando o rei selêucida Antíoco IV Epifânio profanou o Templo de Jerusalém e tentou impor práticas gregas aos judeus.

A revolta foi bem-sucedida, e, após a vitória dos Macabeus e a recaptura de Jerusalém, os judeus conseguiram restabelecer o controle sobre a Judeia. No entanto, a dinastia hasmoneia foi formalmente estabelecida com Simão Macabeu, que se proclamou sumo sacerdote e príncipe da Judeia, em 142 a.C., após a morte de seus irmãos. Ele obteve a independência do controle selêucida e consolidou o domínio de sua família sobre a região.

3. Época

A dinastia dos Hasmoneus governou a Judeia entre 140 a.C. e 37 a.C. Durante esse período, os Hasmoneus expandiram seu território para além da Judeia, incluindo partes da Perea e Iduméia, e também conseguiram estabelecer uma relação relativamente estável com as potências da época, como os romanos e os selêucidas.

O auge da dinastia foi durante o reinado de Jônatas e Simão Macabeu no início do século II a.C., quando os Hasmoneus conseguiram conquistar um domínio considerável na região. Mais tarde, o reinado de Hircano I (135–104 a.C.) e Aristóbulo I (104–103 a.C.) viu uma expansão significativa do território, com conquistas sobre os edomitas e outras tribos vizinhas.

4. Impactos e Influência

Os Hasmoneus tiveram um impacto significativo em vários aspectos:

  • Independência Judaica: A dinastia dos Hasmoneus marcou o fim de séculos de dominação estrangeira, oferecendo à Judeia uma breve era de independência política e religiosa. Esta era de autossuficiência foi vista como um período de renascimento para os judeus, que puderam restaurar suas tradições religiosas e fortalecer o Templo de Jerusalém.
  • Hellenização e Contradições Internas: Apesar de sua resistência inicial à helenização, o governo hasmoneu mais tarde passou a adotar alguns aspectos da cultura grega, incluindo práticas políticas, arquitetônicas e administrativas. Alguns membros da dinastia começaram a se alinhar mais estreitamente com as potências helenísticas, o que gerou tensões internas com grupos religiosos como os fariseus e essenos, que viam essa adaptação como uma traição aos princípios judeus.
  • Conflitos Internos e Divisões: Durante o período final da dinastia, o governo hasmoneu se tornou mais corrupto e instável, com disputas internas entre diferentes ramos da família. O enfraquecimento político dos Hasmoneus, somado à crescente influência de Roma, levou ao colapso da dinastia.

5. Desdobramentos e Queda

A queda dos Hasmoneus está associada ao crescente poder de Roma e à instabilidade interna da dinastia. Em 63 a.C., Pompeu, o general romano, conquistou Jerusalém e colocou a Judeia sob o controle romano, embora nominalmente os Hasmoneus ainda governassem como vassalos.

A dinastia realmente terminou com a ascensão de Herodes, o Grande, que, após uma série de intrigas e alianças com Roma, foi nomeado rei da Judeia pelo imperador Augusto em 37 a.C. Herodes não era um membro da dinastia hasmoneia, mas um idumeu, e sua ascensão ao poder marcou o fim do governo independente da Judeia sob os Hasmoneus.

6. Legado

O legado dos Hasmoneus é significativo na história judaica, especialmente porque representam uma tentativa bem-sucedida de restaurar a independência política da Judeia após séculos de dominação estrangeira. Sua luta contra a helenização também é lembrada como uma defesa das tradições religiosas judaicas. A Revolta dos Macabeus, que levou à criação da dinastia, é comemorada todos os anos durante o festival de Hanucá, que celebra a vitória e a purificação do Templo de Jerusalém.

Porém, o legado dos Hasmoneus é também manchado pela corrupção interna, pela crescente colaboração com potências estrangeiras como Roma e pela divisão interna que enfraqueceu o reino antes da sua queda.

Em resumo, os Hasmoneus desempenharam um papel crucial na história judaica, especialmente pela restauração da independência e pelo fortalecimento da identidade religiosa durante o período helenístico, mas também enfrentaram desafios internos e externos que levaram ao fim de sua dinastia e à subordinação final da Judeia ao Império Romano.


Macabeus: Significado, Etimologia, Origem, Época, Impactos, Influência e Desdobramentos

A história dos Macabeus está intimamente ligada à revolta contra o domínio do Império Selêucida e à restauração do controle judaico sobre a Judeia, um evento que teve grandes consequências para a religião judaica e sua identidade cultural. Eles são uma figura central no livro de 1 Macabeus e no livro de 2 Macabeus, na Bíblia, e são frequentemente associados à festa de Hanucá, que celebra a vitória dos Macabeus sobre os selêucidas.

1. Significado e Etimologia

O termo “Macabeus” provavelmente vem do aramaico “makkaba”, que significa “martelo” ou “báculo”, simbolizando a força e a resistência de Judas Macabeu, o líder da revolta. A etimologia é relacionada ao termo “Maccabi”, que pode ser traduzido como “o martelo”, enfatizando a ideia de combate vigoroso contra os inimigos.

O nome também pode ter origem na expressão “Mi Kamocha Ba’elim Adonai”, que significa “Quem é como você entre os deuses, Senhor?” — uma linha de um cântico religioso judaico, sugerindo uma ligação com os ideais de fé e força.

2. Origem

Os Macabeus foram liderados por Matatias, um sacerdote judeu da linhagem de Joaribe, que morava em Modein, uma cidade na região da Judeia. Em 167 a.C., sob o domínio do rei selêucida Antíoco IV Epifânio, Matatias iniciou uma revolta contra as tentativas do império de helenizar os judeus e de profanar o Templo de Jerusalém, especialmente com a imposição de práticas religiosas gregas.

Após a morte de Matatias, seus filhos, incluindo Judas Macabeu, assumiram a liderança da revolta e organizaram uma série de batalhas militares contra as forças selêucidas. Esse movimento de resistência ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus.

3. Época

A revolta dos Macabeus ocorreu principalmente durante o reinado de Antíoco IV Epifânio (c. 175-164 a.C.), mas também envolveu uma luta contínua ao longo do século II a.C. Após a vitória inicial, os Macabeus estabeleceram uma dinastia, conhecida como os Hasmoneus, que governou a Judeia de forma independente até a ascensão de Herodes, o Grande, em 37 a.C.

A Revolta Macabeia é um marco importante no período helenístico, um momento de resistência à helenização e de reafirmação da identidade judaica diante da pressão externa.

4. Impactos e Influência

O impacto dos Macabeus foi profundo, especialmente no que se refere à preservação da identidade judaica e à preservação do Templo de Jerusalém.

  • Restauração da Independência Judaica: A vitória dos Macabeus resultou na restauração do controle judaico sobre a Judeia e a independência em relação ao Império Selêucida, que, em muitos aspectos, dominava a região e tentava impor a cultura grega.
  • Restauração do Templo de Jerusalém: Uma das vitórias mais simbólicas foi a purificação do Templo de Jerusalém, que tinha sido profanado por Antíoco IV, que colocou um altar de Zeus dentro do Templo. Após a vitória, os Macabeus restabeleceram o culto no Templo, e o evento foi comemorado como o início da festa de Hanucá, que até hoje é celebrada pelos judeus.
  • Ascensão dos Hasmoneus: Com a vitória, os Macabeus estabeleceram uma dinastia, a dinastia hasmoneia, que governou a Judeia até a chegada dos romanos. Esse período de independência foi curto, mas muito significativo para a história judaica.
  • Relação com as Potências Externas: A revolta macabeia também resultou em uma maior aproximação com o Império Romano, que, mais tarde, se tornaria o principal poder sobre a Judeia, após a queda da dinastia hasmoneia.

5. Desdobramentos

Os desdobramentos dos Macabeus se estenderam para vários aspectos da política, religião e cultura judaica:

  • Hanucá: A vitória dos Macabeus é celebrada até hoje na festividade de Hanucá, que lembra a dedicação do Templo e a luta pela liberdade religiosa. A história da purificação do Templo e do milagre do óleo, que durou oito dias apesar de ser uma quantidade insuficiente, é uma das principais tradições associadas à festa.
  • Dinastia Hasmoneia: Os descendentes dos Macabeus fundaram a dinastia Hasmoneia, que governou a Judeia por mais de 70 anos. Durante este período, a Judeia foi ampliada e se tornou uma potência regional, com uma influência crescente na região do Levante.
  • Divisão Interna e Conflitos: O governo dos Hasmoneus, embora inicialmente bem-sucedido, acabou marcado por conflitos internos, principalmente entre os líderes da dinastia, que disputavam poder. Além disso, houve tensões religiosas, com os fariseus e os saduceus (dois grupos judeus) se opondo ao modo de governar dos Hasmoneus, que estavam frequentemente alinhados com o poder político e militar.
  • Romanização: Com o tempo, a dinastia hasmoneia foi enfraquecendo devido a conflitos internos e pressões externas, especialmente de Roma. Em 63 a.C., o general romano Pompeu conquistou Jerusalém, e a Judeia foi colocada sob o controle romano. A dinastia hasmoneia acabou em 37 a.C., quando Herodes, o Grande, um idumeu, foi nomeado rei da Judeia pelos romanos.

6. Legado

O legado dos Macabeus é multifacetado:

  • Resistência e Autonomia: A Revolta dos Macabeus é lembrada como um símbolo de resistência contra a opressão estrangeira e de luta pela liberdade religiosa. A história dos Macabeus e sua luta pela independência permanece um ponto central na memória coletiva judaica.
  • Cultura Judaica: O evento marcou um período de reafirmação da cultura e das tradições judaicas, especialmente o culto no Templo de Jerusalém. Durante o período hasmoneu, o Templo de Jerusalém foi restaurado e floresceu, assim como as práticas religiosas judaicas.
  • Integração com o Mundo Helenístico e Romano: A dinastia dos Macabeus, e posteriormente os Hasmoneus, tiveram que negociar com as potências externas, especialmente os romanos, o que levou a uma maior integração da Judeia no mundo helenístico e romano.
  • Símbolo Religioso: A luta dos Macabeus contra a helenização e pela liberdade religiosa tem ressoado profundamente no judaísmo até os dias de hoje, com Hanucá sendo um evento significativo tanto para a identidade judaica quanto para a celebração da sobrevivência e da resistência.

Em resumo, os Macabeus representaram uma resistência crucial contra as tentativas de helenização e contra a opressão religiosa, restaurando a autonomia da Judeia e reforçando a identidade judaica. Seus feitos tiveram desdobramentos importantes, tanto na história política da região quanto na evolução do judaísmo.


Na época dos selêucidas, diversas facções e grupos religiosos coexistiram nas regiões sob o domínio do império. Vamos analisar alguns desses termos em contexto histórico:

1. Piedosos (ou Hasidim)

Os Piedosos (ou Hasidim em hebraico) eram um grupo de judeus religiosos que resistiram à tentativa de helenização imposta pelos governantes selêucidas, especialmente durante o reinado de Antíoco IV Epifânio. Eles defendiam a observância rigorosa das leis judaicas e a resistência à assimilação cultural grega. O termo Hasidim foi mais tarde associado ao movimento farisaico (um dos principais grupos religiosos do judaísmo do período do Segundo Templo), embora no contexto selêucida se referisse a um grupo que rejeitava a imposição de práticas gregas e a desobediência à Torá.

2. Justos (ou Tzaddikim)

Os Justos (ou Tzaddikim em hebraico) eram pessoas que se destacavam pela sua retidão moral e religiosidade. No contexto dos selêucidas, os “Justos” eram os judeus que mantinham a fidelidade às suas tradições e leis religiosas, apesar das pressões políticas e culturais de helenização. Eles eram respeitados por sua integridade, e muitas vezes se opunham ao governo selêucida que tentava impor práticas estrangeiras, como a adoração de deuses gregos.

3. Separados (ou Perushim – “Fariseus”)

Os Separados ou Fariseus (Perushim em hebraico) eram um grupo religioso judaico que se separava das práticas mais liberais e “contaminadas” pela cultura helenística. Durante o período dos selêucidas, os fariseus defendiam a pureza religiosa, mantendo-se distantes de influências estrangeiras, especialmente da cultura grega e das práticas de helenização que estavam sendo promovidas pelos governantes selêucidas. Com o tempo, os fariseus se tornaram um dos grupos mais importantes no judaísmo pós-exílico, sendo conhecidos por sua ênfase na lei oral e na interpretação rigorosa da Torá.

4. Helenistas

Os Helenistas eram os judeus que, ao contrário dos Piedosos e Justos, aceitavam e até abraçavam a cultura grega e a helenização. Muitos desses judeus foram influenciados pelas políticas de Seleuco I e seus sucessores, que promoveram a difusão da cultura grega nas regiões que controlavam, incluindo a Judeia. Alguns judeus helenistas chegaram a adotar nomes gregos, costumes gregos e até mesmo participaram ativamente na vida pública e cultural grega. Esse grupo gerou tensões com os mais conservadores, como os Hasidim, que viam a helenização como uma ameaça à identidade judaica tradicional.

5. Idumeus

Os Idumeus eram um grupo étnico que habitava a região ao sul da Judeia, conhecida como Iduméia. Eles eram descendentes dos edomitas, um povo semita que se converteu ao judaísmo por volta do século II a.C., durante o período do domínio dos Hasmoneus (que surgiu após a Revolta dos Macabeus, já após a queda dos selêucidas).

Durante a época dos selêucidas, os Idumeus estavam sob o domínio grego e foram, em grande parte, assimilados ou forçados a se submeter à cultura helenística, o que levou à sua conversão ao judaísmo mais tarde. Essa conversão e sua relação com os judeus da Judeia muitas vezes geravam tensões, especialmente porque eles eram vistos como “judeus por conveniência” e não por linhagem, o que afetava sua aceitação dentro da sociedade judaica tradicional.

Resumo:

  • Piedosos/Hasidim: Judeus religiosos que resistiam à helenização.
  • Justos/Tzaddikim: Judeus conhecidos por sua retidão moral, em oposição à helenização.
  • Separados/Fariseus: Judeus rigorosos na observância da Torá e em oposição à influência grega.
  • Helenistas: Judeus que abraçaram a cultura grega e a helenização.
  • Idumeus: Povo semita da Iduméia, que se converteu ao judaísmo, muitas vezes visto com desconfiança pelos judeus da Judeia.

Esses grupos exemplificam a diversidade de respostas dos judeus à pressão da helenização durante o período selêucida, com tensões entre aqueles que desejavam manter as tradições religiosas e culturais e aqueles que viam a assimilação como uma oportunidade de integração no império helenístico.


Herodes, o Grande

Herodes, o Grande, era de origem idumeia. Ele nasceu por volta de 73 a.C. na Iduméia, uma região situada ao sul da Judeia, e era descendente dos edomitas, um povo semita que, como mencionei antes, se converteu ao judaísmo por volta do século II a.C., durante o período de expansão dos Hasmoneus. Essa conversão ao judaísmo foi um fator importante para que os idumeus pudessem se integrar mais diretamente com os judeus da Judeia.

Herodes foi nomeado rei da Judeia pelos romanos, após o apoio que ele deu ao general romano Pompeu durante suas campanhas na região. Apesar de sua origem idumeia, Herodes fez grandes esforços para ser aceito pelos judeus da Judeia, incluindo sua adoção das tradições judaicas, embora sua ascensão ao poder não fosse bem vista por todos, principalmente pelos judeus mais radicais. Muitos judeus viam Herodes como uma figura estrangeira e ilegítima, já que ele era idumeu e não fazia parte da linhagem real judaica.

Herodes também teve um papel importante na construção do Templo de Jerusalém, uma das maiores realizações arquitetônicas da época, mas suas ações políticas e seus métodos violentos de governar, incluindo o assassinato de membros da sua própria família e da liderança judaica, deixaram sua imagem marcada por controvérsia. Assim, enquanto ele procurava solidificar sua posição e integrar-se com os judeus, sua origem idumeia e suas alianças com Roma o tornaram uma figura de divisão entre os judeus.


O período entre o Primeiro Templo (c. 957 a.C. – 586 a.C.) e o Segundo Templo (c. 516 a.C. – 70 d.C.) foi uma era de profundas transformações políticas, sociais e religiosas para o povo judeu, e incluiu vários pensadores, escribas, profetas e outras figuras notáveis. Esse período abrange desde a destruição do Primeiro Templo até a construção do Segundo Templo e além, até a época de Hillel e Shammai.

Entre o Primeiro e o Segundo Templo (c. 586 a.C. – 516 a.C.)

Após a destruição do Primeiro Templo, o povo judeu entrou no período do Exílio Babilônico. Este foi um período de grande crise, mas também de significativa reflexão religiosa e adaptação.

1. Profetas do Exílio Babilônico

Durante o Exílio Babilônico, vários profetas continuaram a atuar, refletindo sobre a destruição de Jerusalém, a perda do Templo e a esperança de um retorno. Entre eles, destacam-se:

  • Jeremias (c. 650 a.C. – c. 580 a.C.):
    • Jeremias foi um dos principais profetas durante a queda do Primeiro Templo. Ele profetizou a destruição de Jerusalém, mas também ofereceu uma mensagem de esperança, afirmando que o exílio não seria permanente e que Deus restauraria o povo judeu.
    • Ele é conhecido por suas lamentações sobre a destruição de Jerusalém, descritas no livro de Lamentações.
  • Ezequiel (c. 622 a.C. – c. 570 a.C.):
    • Ezequiel foi um profeta ativo no Exílio Babilônico, conhecido por suas visões simbólicas e complexas. Uma das mais importantes foi a visão do Vale de Ossos Secos, que simbolizava a restauração de Israel.
    • Ele também enfatizou a importância da pureza espiritual e a volta à fé verdadeira.
  • Daniel (c. 620 a.C. – c. 530 a.C.):
    • Embora Daniel seja mais conhecido pelo livro que leva seu nome, ele também é uma figura proeminente do exílio. Sua obra mistura narrativas históricas com visões apocalípticas, influenciando profundamente o pensamento judaico e cristão subsequente.

2. Escribas e Líderes Religiosos

  • Escribas: Durante o exílio e após o retorno do exílio, os escribas desempenharam um papel crucial em preservar, copiar e interpretar as escrituras sagradas. Eles foram os responsáveis pela organização e redigitação de muitos textos bíblicos, incluindo as tradições orais que mais tarde seriam compiladas na Mishná e outros textos rabínicos.
  • Zorobabel (c. 538 a.C. – c. 520 a.C.):
    • Zorobabel foi um líder judeu e governante que ajudou a liderar o retorno dos judeus a Jerusalém após o exílio babilônico. Ele foi fundamental na reconstrução do Segundo Templo de Jerusalém, servindo como uma figura chave na restauração do culto e das práticas religiosas no pós-exílio.

3. A Era do Segundo Templo (516 a.C. – 70 d.C.)

Após a construção do Segundo Templo, a história do judaísmo foi marcada por uma série de mudanças, incluindo o crescimento da lei oral e o fortalecimento da identidade religiosa judaica. Durante esse período, surgiram várias escolas de pensamento e figuras influentes, como os fariseus, saduceus, e essênios.

4. Escribas e Filósofos Religiosos

  • Escribas: Com a reconstrução do Templo e o retorno do exílio, os escribas ganharam grande influência na sociedade judaica. Eles estavam encarregados da preservação dos textos sagrados, interpretação das leis e ensino da Torá ao povo. Muitos deles eram chamados de rabinos, e seu papel se expandiu durante o período do Segundo Templo, especialmente após a destruição do Templo.

5. Filon de Alexandria (c. 20 a.C. – c. 50 d.C.)

  • Embora ele tenha vivido um pouco depois da construção do Segundo Templo, Filon de Alexandria foi um grande filósofo judeu helenista que tentou reconciliar o judaísmo com a filosofia grega, especialmente o platonismo. Ele é um exemplo de como a cultura helenística influenciou as comunidades judaicas, especialmente em Alexandria.

Conclusão

O período entre o Primeiro e o Segundo Templo foi de grande agitação e transformação para o povo judeu. Durante o Exílio Babilônico, figuras como Jeremias, Ezequiel e Daniel influenciaram o pensamento religioso com suas mensagens de esperança e reflexão sobre o sofrimento. Após o retorno, durante a construção do Segundo Templo, o papel dos escribas se intensificou, e a sociedade judaica passou a refletir sobre a natureza de Deus, a Lei e a prática religiosa.

A reconstrução do Templo deu início a um novo capítulo no judaísmo, no qual surgiram diferentes grupos e escolas de pensamento, como os fariseus, saduceus e essênios, que formaram o pano de fundo para as discussões e debates que continuariam até os tempos de Hillel e Shammai.


Hillel e Shammai

Hillel e Shammai foram dois dos mais proeminentes rabinos da época do Segundo Templo em Jerusalém, conhecidos por suas interpretações divergentes da lei judaica. Ambos fundaram escolas que se tornaram as bases para duas grandes tradições no judaísmo rabínico.

  • Hillel: Era conhecido por sua abordagem mais flexível e compassiva para com as leis e ensinamentos. Sua escola era mais aberta e focada na interpretação misericordiosa da Torá. Ele é famoso por sua ênfase em “amar ao próximo como a si mesmo”, um princípio de grande importância na tradição judaica.
  • Shammai: Por outro lado, era mais rigoroso em suas interpretações da lei. Sua escola defendia uma aplicação mais estrita e conservadora das tradições, muitas vezes sendo mais exigente nas observâncias religiosas e nas práticas diárias.

Apesar das diferenças entre as escolas de Hillel e Shammai, a tradição judaica sublinha o respeito mútuo e a valorização das opiniões divergentes. Em muitas questões, a opinião de Hillel prevaleceu nas decisões haláchicas, mas a influência de Shammai também foi importante em várias áreas do pensamento religioso.


O helenismo teve uma influência profunda na época do Segundo Templo, especialmente após a conquista do Império Macedônio sob Alexandre, o Grande, no século IV a.C. Essa influência foi significativa tanto nas culturas orientais quanto no mundo judeu. Vamos analisar alguns aspectos principais dessa influência:

1. Cultura e Filosofia Grega

Após a conquista de Alexandre, a cultura grega se espalhou rapidamente pelos territórios conquistados, incluindo a Judeia. O helenismo trouxe consigo um novo modo de pensar, uma nova língua (o grego), e um novo estilo de arte e arquitetura. A filosofia grega, incluindo o pensamento de Platão, Aristóteles e outros, também deixou sua marca, especialmente nas interações entre as tradições locais e as novas ideias gregas.

  • Língua Grega: O grego se tornou a língua comum (koine) do império helenístico e continuou sendo amplamente falado durante o período romano. Isso facilitou a troca cultural, a comunicação e a disseminação de ideias.
  • Filosofia: Embora o judaísmo tenha mantido uma identidade religiosa distinta, alguns judeus foram influenciados por escolas filosóficas gregas, como o estoicismo e o platonismo. Filon de Alexandria, por exemplo, foi um filósofo judeu que tentou integrar a filosofia grega com os ensinamentos judaicos.

2. Influências Religiosas

O helenismo trouxe consigo práticas e crenças que competiam com o judaísmo. Durante o período helenístico, os judeus passaram a conviver com várias influências religiosas, que eram, muitas vezes, vistas como uma ameaça à pureza da religião judaica.

  • Sincretismo Religioso: A fusão de elementos de diferentes religiões e culturas foi uma característica marcante do helenismo. Muitos judeus foram seduzidos pelas práticas religiosas gregas, como cultos a deuses gregos, e havia até tentativas de fundir as práticas judaicas com elementos gregos, algo que foi um foco de tensão durante o período.
  • Hellenização forçada: Durante o reinado de Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.), houve uma tentativa de impor a religião helenística sobre os judeus, o que culminou na profanação do Templo de Jerusalém e na revolta dos Macabeus. A resistência judaica ao helenismo tornou-se um ponto central para a preservação da identidade judaica.

3. Política e Governança

O helenismo também teve um impacto na política e na governança da Judeia. Sob os sucessores de Alexandre, o Império Selêucida, e mais tarde o Império Ptolemaico, os judeus viveram sob a administração helenística.

  • Cidades helenísticas: Muitos judeus passaram a viver em cidades helenísticas, como Alexandria no Egito, onde havia uma grande comunidade judaica. Essas cidades eram centros culturais e econômicos vibrantes, mas também foram locais de assimilação cultural, o que levou a uma crescente divisão entre judeus que abraçavam o helenismo e os que resistiam a ele.
  • Conflitos Políticos: O helenismo também gerou divisões políticas e sociais entre diferentes facções dentro da sociedade judaica. Havia aqueles que apoiavam a integração à cultura helenística e aqueles que eram fiéis às tradições judaicas mais rigorosas.

4. Arte e Arquitetura

O helenismo trouxe mudanças significativas na arte e arquitetura. Em vez de se concentrar exclusivamente em representações religiosas, a arte helenística começou a explorar mais temas humanos e realistas. No contexto judaico, isso se refletiu em algumas inovações artísticas, como a construção de edifícios públicos e templos em estilo helenístico.

  • Influências nas construções: O Templo de Jerusalém foi reformado e ampliado por Herodes o Grande, que buscou integrar elementos da arquitetura helenística em seus projetos, incluindo o uso de colunas e outros elementos estilísticos gregos.

Conclusão

O helenismo, portanto, teve um impacto complexo e multifacetado na época do Segundo Templo. Embora tenha gerado resistência e tensões, também trouxe novas ideias e formas de expressão cultural que influenciaram, de maneira significativa, a sociedade e o pensamento judaico da época. A interação entre o judaísmo e o helenismo, por sua vez, preparou o terreno para muitas das transformações que ocorreriam posteriormente no mundo judaico, incluindo a ascensão do cristianismo.


Hillel e Gamaliel não são a mesma pessoa, mas estão conectados em termos de tradição rabínica e liderança judaica. Eles viveram em períodos diferentes, embora ambos tenham desempenhado papéis importantes no desenvolvimento do judaísmo rabínico.

Hillel

Hillel foi um líder e rabino judeu da época do Segundo Templo, ativo por volta de 30 a.C. a 10 d.C. Ele fundou a escola de Hillel, que enfatizava uma interpretação mais flexível e misericordiosa da Torá. Ele é conhecido por ser um mestre que favorecia a compreensão generosa das leis judaicas, e muitos dos princípios que ele ensinou têm grande influência até hoje. Hillel também é famoso pela frase: “O que é odioso para você, não faça ao seu próximo.”

Gamaliel

Já Gamaliel, ou Gamaliel I, foi neto de Hillel e também uma figura influente, mas ele viveu algumas décadas depois, por volta de 10 d.C. a 50 d.C. Gamaliel foi um grande rabino da época do domínio romano, e é conhecido por sua liderança no Sinédrio, a alta corte religiosa judaica. Ele era mais conservador em relação às interpretações da Torá em comparação com a escola de Hillel. Gamaliel também é mencionado em Atos dos Apóstolos como uma figura importante no contexto do cristianismo primitivo, aconselhando prudência no tratamento dos primeiros seguidores de Jesus.

Portanto, Hillel e Gamaliel estavam relacionados, mas não eram a mesma pessoa. Gamaliel foi uma geração posterior a Hillel e continuou a tradição de sua escola, mas com suas próprias contribuições para o desenvolvimento da lei judaica.


Nicodemos é uma figura interessante mencionada no Novo Testamento, especificamente no Evangelho de João. Ele não é tão amplamente conhecido quanto Hillel ou Gamaliel, mas sua história está ligada ao contexto judaico do período do Segundo Templo. Aqui estão alguns detalhes sobre ele:

Quem foi Nicodemos?

Nicodemos era um fariseu e um membro do Sinédrio, o conselho governante judaico. Ele é descrito como sendo uma pessoa influente e respeitada na comunidade judaica de Jerusalém. No entanto, ele parece ser alguém que estava em busca de respostas espirituais mais profundas, como se evidência em seus encontros com Jesus.

Encontro com Jesus

Nicodemos aparece em três momentos distintos no Evangelho de João:

  1. Visita noturna a Jesus (João 3:1-21): No início, Nicodemos vai até Jesus à noite, talvez para evitar ser visto por outros membros do Sinédrio, e começa uma conversa sobre o “novo nascimento”. Jesus lhe fala sobre a necessidade de nascer “da água e do Espírito” e explica conceitos profundos como o “novo nascimento” e o “nascer de novo”. Durante essa conversa, Jesus faz a famosa declaração: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
  2. Defesa de Jesus no Sinédrio (João 7:50-52): Durante uma reunião do Sinédrio, onde os membros discutem sobre a legalidade e as ações de Jesus, Nicodemos defende a ideia de que a lei judaica exige que qualquer pessoa seja ouvida antes de ser julgada. Isso mostra que, embora estivesse em uma posição de autoridade, ele se sentia inclinado a defender Jesus, mesmo que isso o colocasse em uma posição de desvantagem perante seus colegas.
  3. Assistência no sepultamento de Jesus (João 19:38-42): Após a crucificação de Jesus, Nicodemos se apresenta novamente, desta vez ajudando José de Arimateia a preparar o corpo de Jesus para o sepultamento. Ele traz uma grande quantidade de mirra e aloés para o processo de embalsamamento, o que indica respeito e devoção a Jesus, sugerindo que sua fé nele estava amadurecendo.

Nicodemos e o contexto judaico

Nicodemos representa um exemplo de um líder religioso que, embora inicialmente hesitante ou cético, estava aberto às ideias e ensinamentos de Jesus. Sua história oferece um contraste interessante com outros membros do Sinédrio, como os fariseus que rejeitaram a mensagem de Jesus.

Em termos de sua relação com as figuras como Hillel e Gamaliel, enquanto Hillel foi mais voltado para o desenvolvimento da interpretação gentil e misericordiosa da Torá, Nicodemos, sendo um fariseu, estava mais alinhado com a interpretação legalista, mas sua interação com Jesus mostrou um lado mais introspectivo e aberto à mudança.

Conclusão

Nicodemos não é uma figura central na literatura rabínica, como Hillel ou Gamaliel, mas sua história no Novo Testamento é significativa por ilustrar a luta interna de alguém que, sendo parte da elite religiosa judaica, começa a questionar as normas estabelecidas em busca de uma compreensão mais profunda de Deus e da espiritualidade. Ele oferece uma visão da possibilidade de transformação, mesmo dentro de um contexto judaico muito rígido da época.


Shammai foi um rabino judeu que viveu no período do Segundo Templo e é conhecido principalmente por ser o fundador da escola Bet Shammai, uma das duas principais escolas de interpretação da Lei Judaica (Halachá), junto com a escola rival Bet Hillel. Ele foi contemporâneo de Hillel e, de fato, as duas escolas eram frequentemente em contraste, com Shammai sendo mais rigoroso em suas interpretações.

Origem e Vida de Shammai

Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Shammai, mas ele é tradicionalmente descrito como um rabino muito respeitado, de temperamento forte e uma abordagem mais conservadora das leis judaicas. Sua escola defendia uma interpretação mais literal e estrita da Torá, contrastando com a escola de Hillel, que era mais flexível e aberta.

O rabino Shammai é frequentemente associado à ideia de rigorismo e disciplina, defendendo uma observância mais austera das mitzvot (mandamentos religiosos). Em muitas discussões rabínicas, ele e seus discípulos eram conhecidos por seguir uma abordagem que se distanciava da liberalidade da escola de Hillel.

Ensinos e Legado

A escola de Shammai se concentrou em interpretações mais rigorosas, e, por isso, muitos dos ensinamentos de Shammai eram mais difíceis de seguir para o povo comum. Exemplos incluem questões como a pureza ritual, o sabá, e o casamento. Sua abordagem muitas vezes entrava em conflito com a de Hillel, que era mais moderada e considerava o contexto das pessoas ao aplicar as leis.

Apesar disso, a tradição judaica valoriza ambas as escolas, e muitas vezes as visões de Shammai e Hillel são comparadas para ilustrar diferentes formas de aplicar a Lei. Nos casos em que houve divergências, a opinião de Hillel geralmente prevaleceu na prática legal judaica, mas a importância de Shammai não pode ser subestimada, pois sua interpretação contribuiu para o desenvolvimento da Halachá.

Exemplo de Divergência entre Shammai e Hillel

Um exemplo famoso da divergência entre Shammai e Hillel se refere à questão do divórcio. Shammai era mais rigoroso, acreditando que o divórcio só era permitido por motivos graves, enquanto Hillel aceitava o divórcio por uma razão mais flexível, como uma “coisa indecente” (mesmo que fosse algo menor como uma falta de gosto em comida). As diferentes interpretações dessas leis tornaram-se um símbolo das duas abordagens contrastantes entre as escolas.

Conclusão

Shammai foi uma figura central no judaísmo rabínico e sua influência perdura até hoje, especialmente nas discussões sobre como as leis judaicas devem ser aplicadas e interpretadas. Embora seu ensino fosse mais estrito, ele ajudou a moldar o judaísmo pós-Templo, fornecendo uma base sólida para o desenvolvimento das tradições legais.


É possível que Hillel e Shammai tivessem algum conhecimento das ideias de Platão e Aristóteles, mas é importante entender o contexto histórico e cultural em que eles viveram para avaliar o grau de sua familiaridade com a filosofia grega.

Contexto Histórico e Cultural

Hillel e Shammai viveram durante o período do Segundo Templo de Jerusalém, especificamente entre os séculos I a.C. e I d.C., em um momento em que o mundo judaico estava sendo fortemente influenciado pela cultura helenística após as conquistas de Alexandre, o Grande, no século IV a.C. No entanto, a maneira como essa influência se manifestava variava dependendo da região e da comunidade.

  • Filosofia Grega: Platão e Aristóteles viveram no século IV a.C., o que significa que suas filosofias estavam em circulação já havia algumas gerações quando Hillel e Shammai estavam ativos. O pensamento grego havia se espalhado por várias partes do mundo, especialmente nas regiões sob domínio helenístico, como a Palestina, que fazia parte dos reinos helenísticos após a morte de Alexandre.
  • Hellenização e Judeus: Enquanto as influências helenísticas eram notáveis nas grandes cidades como Alexandria (Egito) e Antioquia (Síria), no território judaico de Jerusalém e outras regiões, o judaísmo era mais conservador e procurava preservar sua identidade religiosa e cultural. Em algumas áreas, especialmente entre os fariseus (a qual Hillel e Shammai pertenciam), havia uma resistência direta às ideias estrangeiras, embora houvesse também uma assimilação seletiva de algumas ideias helenísticas.

Possível Conhecimento de Platão e Aristóteles

  • Hillel e Shammai eram profundamente envolvidos com os ensinamentos da Torá e com a interpretação da Lei Judaica (Halachá), e, por isso, sua principal preocupação estava com a aplicação das leis religiosas. Embora a filosofia grega tenha circulado bastante naquela época, não há uma evidência clara de que eles estivessem diretamente imersos no estudo das obras de Platão ou Aristóteles.
  • Influência Indireta: É possível que as ideias de Platão e Aristóteles, especialmente no que diz respeito à lógica, ética e metafísica, estivessem sendo discutidas de maneira mais ampla em círculos helenísticos, especialmente em lugares como Alexandria, onde havia uma grande comunidade judaica. Filon de Alexandria, um filósofo judeu que viveu alguns séculos depois, é um exemplo claro de alguém que procurou integrar a filosofia grega com a tradição judaica. No entanto, a filosofia de Platão e Aristóteles estava longe de ser dominante entre os rabinos judeus de Jerusalém, como Hillel e Shammai.
  • Disputa entre as Escolas: O contraste entre as escolas de Hillel e Shammai, por exemplo, tem mais a ver com diferenças interpretativas dentro da tradição judaica do que com influências externas, como o pensamento grego. O judaísmo daquela época era mais voltado para a prática religiosa e a preservação da identidade nacional e espiritual, do que para a adoção ou adaptação das filosofias gregas.

Conclusão

Embora a filosofia de Platão e Aristóteles estivesse em circulação no mundo helenístico da época, é improvável que Hillel e Shammai tivessem um conhecimento direto e aprofundado de suas ideias. No entanto, o contexto cultural helenístico e as interações entre diferentes tradições poderiam ter levado a uma troca de ideias de forma indireta, influenciando, em certa medida, o ambiente intelectual em que viviam.


A época de Hillel e Shammai, que corresponde ao período do Segundo Templo de Jerusalém (aproximadamente 100 a.C. a 70 d.C.), foi um período de grande desenvolvimento no judaísmo, marcado por discussões e disputas sobre a interpretação da Torá e pela interação com a cultura helenística. Além de Hillel e Shammai, havia outros pensadores e rabinos influentes da mesma época. Aqui estão alguns deles:

1. Yohanan ben Zakkai

Yohanan ben Zakkai foi um dos mais importantes rabinos da época de Hillel e Shammai, e é amplamente reconhecido como uma figura chave na transição do judaísmo do período do Templo para o judaísmo rabínico. Ele viveu durante a Destruição do Segundo Templo (70 d.C.), e é famoso por seu papel em preservar o ensino rabínico e fundar uma academia em Yavne, onde os estudiosos podiam continuar a tradição judaica sem o Templo.

  • Contribuições: Yohanan ben Zakkai enfatizou a importância do estudo da Torá e da oração como substitutos para o Templo destruído. Ele também ajudou a consolidar a prática de estudo das escrituras e da Halachá (lei judaica) como o núcleo do judaísmo pós-Templo.

2. Hillel e Shammai – As Escolas

Enquanto Hillel e Shammai são as figuras mais proeminentes, é importante notar que suas escolas (Bet Hillel e Bet Shammai) estavam associadas a numerosos discípulos que também desempenharam papéis significativos na interpretação e aplicação da Torá. Alguns discípulos conhecidos de cada escola incluem:

  • Bet Hillel: A escola de Hillel era conhecida por sua abordagem mais flexível e misericordiosa. Entre seus discípulos notáveis estavam Rabbi Joshua ben Hananiah e Rabbi Akiva (embora Akiva tenha vivido um pouco depois, ele foi muito influenciado pela tradição de Hillel).
  • Bet Shammai: A escola de Shammai, por outro lado, era mais rigorosa e conservadora. Alguns de seus discípulos importantes incluem Rabbi Eleazar ben Azariah e Rabbi Tarfon.

**3. Jesus de Nazaré

Embora Jesus não fosse um rabino ou pensador no mesmo sentido que Hillel e Shammai, ele viveu na mesma época e seu ensino se cruzou com as discussões rabínicas da época. Ele foi contemporâneo de Hillel e Shammai, e suas interações com os fariseus e outros grupos religiosos refletem as tensões e debates sobre a interpretação das Escrituras e das leis judaicas.

  • Ensinamentos de Jesus: Jesus frequentemente desafiava as interpretações legais rígidas dos fariseus (associados à escola de Hillel) e enfatizava princípios como o amor ao próximo e a misericórdia, que eram, em muitos aspectos, semelhantes aos princípios defendidos por Hillel.

4. Filon de Alexandria

Embora Filon de Alexandria tenha vivido um pouco depois de Hillel e Shammai, ele foi uma figura importante que ajudou a integrar a filosofia grega, especialmente o platonismo, com a tradição judaica. Filon foi um filósofo judeu helenístico que procurou reconciliar o pensamento grego com a interpretação religiosa judaica.

  • Contribuições: Filon foi um dos primeiros a escrever sobre a relação entre razão e fé, e sua obra influenciou o desenvolvimento do judaísmo filosófico e também teve um impacto nas primeiras ideias cristãs.

5. Outros Rabinos e Figuras Contemporâneas

  • Rabbi Akiva: Embora tenha vivido um pouco depois de Hillel e Shammai, Rabbi Akiva é uma figura central na história rabínica. Ele era um discípulo de Hillel e desenvolveu muitas das ideias da escola de Hillel, particularmente a respeito da interpretação da Torá. Akiva também foi um dos maiores mestres do Talmud, especialmente no campo da exegese da Torá.
  • Rabbi Eleazar ben Azariah: Ele era um discípulo de Hillel e, em algumas fontes, é mencionado como alguém que tentou mediar entre as escolas de Hillel e Shammai. Ele também teve um papel importante nas discussões sobre as tradições orais e sua preservação após a destruição do Templo.
  • Rabbi Tarfon: Era um discípulo de Shammai e é frequentemente mencionado nas discussões do Talmud. Ele representava a abordagem mais rigorosa da Lei e era conhecido por sua piedade e devoção.

Conclusão

A época de Hillel e Shammai foi uma fase de intenso debate teológico e legal dentro do judaísmo, com várias escolas de pensamento e figuras influentes que ajudaram a moldar o desenvolvimento da Halachá e das práticas religiosas judaicas. Enquanto Hillel e Shammai foram os líderes mais conhecidos, outros rabinos como Yohanan ben Zakkai, Filon de Alexandria e até mesmo Jesus de Nazaré estavam profundamente envolvidos nos debates e na transformação do judaísmo no período do Segundo Templo.



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