Da Náutica à Exploração Espacial Astronáutica

Doc. “Caravelas e Naus um Choque Tecnológico no século XVI”


Como o BRASIL fabricava os MAIORES NAVIOS DO MUNDO?


Barco, Barca e Embarcação: Terminologia, Etimologia e Raízes Históricas

1. Introdução

Desde os primórdios da civilização, a navegação desempenha papel crucial no desenvolvimento econômico, social e cultural das sociedades humanas. Os barcos e embarcações permitiram a expansão de impérios, o comércio entre povos e o intercâmbio de ideias. Este artigo explora a terminologia, etimologia e a história marítima de embarcações, com ênfase em civilizações antigas como Egito e Grécia, além de destacar conceitos fundamentais como cabotagem e o papel dos Povos do Mar na dinâmica naval do Mediterrâneo.


2. Etimologia dos Termos Principais

Barco

  • Do latim barca, que provavelmente tem origem na palavra grega baris (βᾶρις), usada para designar embarcações egípcias no Nilo.
  • O termo também pode ter influências do árabe barqah, que significa embarcação pequena.

Barca

  • Em português, refere-se geralmente a uma embarcação menor que um navio, usada para transporte fluvial ou costeiro.
  • Etimologicamente relacionada ao latim barca, foi incorporada nos idiomas românicos com variações semelhantes (barque em francês, barca em italiano e espanhol).

Embarcação

  • Deriva de “embarcar” (colocar em barco) + sufixo “-ção”, e é um termo genérico para qualquer veículo flutuante usado na navegação.

3. A Cabotagem

Definição

  • Cabotagem refere-se à navegação costeira entre portos de um mesmo país, distinguindo-se da navegação de longo curso (transoceânica).
  • Do francês cabotage, relacionado a caboter (navegar de porto em porto), possivelmente derivado do nome de Jean Cabot (John Cabot), navegador veneziano.

Importância

  • Essencial para o comércio local e regional desde a Antiguidade, quando as embarcações evitavam se afastar muito da costa devido às limitações tecnológicas e à ausência de instrumentos de navegação sofisticados.
  • A cabotagem foi predominante em civilizações mediterrâneas, como Fenícia, Grécia e Roma.

4. Os Povos do Mar

Quem eram

  • Conjunto enigmático de populações que, por volta de 1200 a.C., protagonizaram uma série de invasões e migrações no Mediterrâneo oriental.
  • Mencionados em inscrições egípcias (como as de Ramsés III, no templo de Medinet Habu), são associados à crise do final da Idade do Bronze.

Contribuições náuticas

  • Embora vistos como invasores, os Povos do Mar eram altamente hábeis na construção de embarcações e manobras marítimas.
  • Utilizavam navios com proas altas e remos, semelhantes a galés, e contribuíram para a difusão de técnicas náuticas e de guerra naval entre ilhas e litorais do Mediterrâneo.

Fonte: DREWS, Robert. The End of the Bronze Age: Changes in Warfare and the Catastrophe ca. 1200 B.C. Princeton: Princeton University Press, 1993.


5. Civilizações Náuticas da Antiguidade

Egito Antigo

  • Navegação no rio Nilo era vital. Usavam embarcações de papiro e, mais tarde, madeira de cedro do Líbano.
  • O termo baris, descrito por Heródoto, refere-se a barcos egípcios com proa e popa elevadas.
  • O “barco solar de Quéops” é um exemplo preservado de engenharia naval egípcia.

Grécia Antiga

  • Termos como naus (ναῦς) e ploion (πλοῖον) eram comuns.
  • Trirremes e birremes eram embarcações de guerra, com múltiplas fileiras de remos.
  • Utilizavam a cabotagem no mar Egeu como principal forma de navegação, favorecendo o comércio entre as pólis.

Povos Fenícios

  • Mestres na navegação de cabotagem e de alto-mar.
  • Desenvolveram navios com casco robusto, vela quadrada e um sistema de leme rudimentar.
  • Estabeleceram rotas de comércio por todo o Mediterrâneo, incluindo as colônias de Cartago e Cádiz.

6. Tipos Históricos de Embarcações

NomeOrigemUso PrincipalMateriais
BarisEgito AntigoTransporte no NiloAcácia, papiro
BarcaRoma e Idade MédiaTravessias costeiras e fluviaisMadeira
TrirremeGrécia AntigaGuerra navalMadeira e bronze
DromonImpério BizantinoPatrulha marítimaMadeira
GaléEuropa medievalComércio e guerraMadeira

7. Terminologia Técnica Náutica

TermoSignificado
ProaParte dianteira da embarcação
PopaParte traseira
BombordoLado esquerdo do casco
EstibordoLado direito
CascoEstrutura principal que flutua
ConvésPiso superior ou plataforma
MastroEstrutura que sustenta a vela

8. Legado Cultural e Linguístico

A terminologia marítima portuguesa incorpora elementos de diversas culturas antigas — egípcia, grega, romana, fenícia, árabe e ibérica medieval. A navegação e a construção naval foram pilares das grandes expansões territoriais e econômicas dos impérios e nações marítimas, moldando o vocabulário técnico até os dias de hoje.


9. Conclusão

A história das embarcações reflete a evolução da humanidade em direção à mobilidade, ao comércio e ao conhecimento geográfico. De baris egípcias às trirremes gregas, da cabotagem fenícia aos navios de guerra bizantinos, a navegação moldou fronteiras, culturas e línguas. A persistência dos termos barco, barca e embarcação mostra como os saberes náuticos antigos ainda ancoram nosso presente.


10. Referências Bibliográficas

  • HERÓDOTO. Histórias, Livro II. São Paulo: Martin Claret, 2006.
  • DREWS, Robert. The End of the Bronze Age: Changes in Warfare and the Catastrophe ca. 1200 B.C. Princeton University Press, 1993.
  • MORRISON, J. S.; COATES, J. F. The Athenian Trireme. Cambridge University Press, 1986.
  • CASSON, Lionel. Ships and Seamanship in the Ancient World. Princeton University Press, 1971.
  • GILL, Christopher. Greek Naval Warfare. Ancient History Encyclopedia, 2016.
  • SOUSA, Fernando de. História Marítima de Portugal. Lisboa: Academia de Marinha, 2001.
  • DIAS, António C. Teixeira. Vocabulário Náutico Português. Lisboa: CTT, 1978.

Convés e arrais são dois termos náuticos fundamentais, com origens distintas e usos técnicos específicos no contexto de embarcações. Abaixo está a explicação detalhada de cada termo, sua etimologia, função a bordo e relação histórica:


1. Convés

❖ Definição:

O convés é o piso ou plataforma superior (ou intermediária) de uma embarcação. Em termos simples, é o “chão” sobre o qual as pessoas caminham nos navios. Em navios grandes, há vários conveses, cada um com nome e função específicos (ex: convés principal, convés do tombadilho, convés inferior, convés do castelo).

❖ Etimologia:

A palavra “convés” vem do francês antigo convais, derivado do latim convexus (“curvo, abobadado”), referindo-se à curvatura do casco do navio sobre o qual o piso era montado.

❖ Funções:

  • Suporte estrutural para a embarcação.
  • Local para circulação de tripulação e passageiros.
  • Espaço para manobras de carga, equipamentos e armas (em navios de guerra).
  • Instalação de mastros, velas, escotilhas, equipamentos de navegação e defesa.

2. Arrais

❖ Definição:

Arrais é o nome dado ao condutor ou comandante de pequenas embarcações, como botes, lanchas e barcos de pesca. No Brasil, o termo é usado oficialmente em certificados náuticos, como “Arrais-Amador”.

❖ Etimologia:

“Arrais” vem do árabe hispânico ar-ráyyis, que significa “chefe”, “capitão”, “comandante”. O termo entrou no português a partir do contato com os povos mouros, durante a Idade Média.

❖ Tipos (no Brasil, segundo a Marinha):

  • Arrais-Amador: habilitação para conduzir embarcações de esporte e recreio em águas interiores (rios, lagos, baías).
  • Mestre-Amador: permite a navegação costeira.
  • Capitão-Amador: habilita para navegação oceânica.

Relação Histórica e Cultural

  • Nos tempos das grandes navegações e também em barcos menores, o arrais era responsável pelo que acontecia sobre o convés. Assim, o convés era seu espaço de comando direto, onde a navegação prática se dava.
  • Em embarcações antigas mediterrâneas (gregas, egípcias, fenícias), já existiam estruturas similares ao convés — mesmo que rudimentares — e líderes que exerciam o papel de arrais, embora com outros nomes (como naukleros na Grécia ou qa’id entre árabes).

Quadro comparativo: Convés × Arrais

TermoNaturezaEtimologiaFunçãoAplicação Atual
ConvésEstruturalLatim convexus (curvo)Piso/plataforma do navioPresente em todos os navios modernos
ArraisPessoal (cargo)Árabe ar-ráyyis (chefe, capitão)Comandante de pequenas embarcaçõesHabilitação náutica para barcos menores

Vamos abordar os conceitos de esqueleto rígido e costado rígido como métodos construtivos navais, inserindo-os no contexto histórico das galés, embarcações típicas do Mediterrâneo entre a Antiguidade e o Renascimento.


🛠️ Métodos Construtivos Navais: Esqueleto Rígido vs Costado Rígido

1. Costado Rígido (Shell-First)

❖ Definição:

O método do costado rígido (também chamado de shell-first) consiste em construir primeiro o revestimento exterior do navio (as tábuas do casco), e só depois instalar a estrutura interna (cavernas, quilha secundária, etc.).

❖ Características:

  • Método tradicional de construção naval utilizado em embarcações antigas.
  • Requer habilidade artesanal para curvar e ajustar as tábuas.
  • Muito comum nas embarcações egípcias, fenícias, gregas e romanas.
  • Mais fácil em construções pequenas ou com acesso limitado a ferragens e ferramentas metálicas.
  • Estrutura mais orgânica, muitas vezes usando encaixes como cavilhas, espigas e ligaduras de corda ou fibras.

❖ Exemplo histórico:

  • Galés gregas e romanas eram, em sua maioria, construídas com esse método, onde as tábuas do costado eram unidas por encaixes antes da colocação das estruturas internas.

2. Esqueleto Rígido (Frame-First)

❖ Definição:

O método do esqueleto rígido (ou frame-first) constrói primeiro a estrutura interna (quilha, cavernas, balizas, longarinas) como um esqueleto, e depois reveste com as tábuas externas do costado.

❖ Características:

  • Introduzido gradualmente a partir da Idade Média, tornando-se dominante na construção naval europeia a partir do século XV.
  • Permite maior padronização, resistência e controle dimensional da embarcação.
  • Adequado a embarcações maiores e mais pesadas.
  • Base para a construção moderna de navios de madeira, ferro e aço.

❖ Exemplo histórico:

  • Caravelas e naus portuguesas, navios de guerra e transporte atlântico dos séculos XV a XVIII eram construídos com esqueleto rígido.

🚢 Galés: Contexto Histórico e Estrutural

❖ O que são Galés?

As galés eram embarcações longas, estreitas e movidas a remos (e ocasionalmente velas), utilizadas principalmente no mar Mediterrâneo por gregos, romanos, bizantinos, otomanos e venezianos.

❖ Características estruturais:

  • Construídas geralmente com o método do costado rígido, especialmente na Antiguidade.
  • Tinham estrutura leve e flexível, ideal para velocidade e manobrabilidade, mas pouco resistente a mares abertos.
  • Baixo calado, ideal para navegação costeira.
  • Longas fileiras de remos, organizadas em andares (moneres, birremes, trirremes, etc.).

❖ Evolução:

Com o tempo, algumas galés renascentistas passaram a adotar elementos de esqueleto rígido conforme a técnica evoluía e a necessidade por embarcações mais resistentes crescia (ex: galés venezianas armadas).


🧱 Quadro Comparativo: Métodos Construtivos

CaracterísticaCostado Rígido (Shell-First)Esqueleto Rígido (Frame-First)
Ordem de construçãoTábuas externas → estrutura internaEstrutura interna → tábuas externas
Pré-RequisitosAlta habilidade artesanalPrecisão de projeto e ferramentas
Resistência estruturalMenorMaior
FlexibilidadeAltaMenor
Uso históricoGalés antigas, egípcios, gregosCaravelas, naus, navios modernos
Contexto culturalMediterrâneo AntigoEuropa renascentista e Atlântico

📚 Fontes e Referências:

  • Steffy, J. R. (1994). Wooden Ship Building and the Interpretation of Shipwrecks.
  • Casson, L. (1995). Ships and Seamanship in the Ancient World.
  • Pomey, P. (2004). Construction navale antique: bois et techniques.
  • Morrison, J. S. & Coates, J. F. (2000). The Athenian Trireme.

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