
Conexões entre Cientologia, Ocultismo e Cultura Pop: L. Ron Hubbard, Jack Parsons e a Influência em Hollywood
Resumo: Este artigo investiga as conexões históricas e culturais entre a Igreja da Cientologia, fundada por L. Ron Hubbard, e as figuras do ocultismo moderno, com ênfase em Jack Parsons. Discorre-se sobre as influências dessas relações na cultura popular, particularmente em Hollywood e na ficção científica, incluindo especulações sobre personagens e narrativas inspiradas por essas figuras e ideias. Utiliza-se referências bibliográficas e registros históricos para contextualizar os eventos e destacar os desdobramentos contemporâneos.
1. Introdução A relação entre religiosidade alternativa, ciência e cultura pop tem sido objeto de interesse crescente entre estudiosos de religião, mídia e história da ciência. Desde o século XX, surgiram movimentos que, combinando espiritualidade esotérica, tecnociência e estratégias narrativas, moldaram novos paradigmas culturais. A Cientologia, por exemplo, surgiu no contexto da ficção científica pulp dos anos 1940 e 50, ganhando status de religião institucionalizada com forte penetração em Hollywood. Paralelamente, o engenheiro e ocultista Jack Parsons tornou-se uma figura central na história da propulsão a jato e também da magia moderna, mesclando práticas científicas e ritualísticas. Este artigo propõe um mergulho nessas interseções, abordando como a produção de sentido e a busca por transcendência tecnológica se entrelaçam em personagens reais e fictícios, práticas mágicas e inovações aeroespaciais, e como tudo isso ressoa nas indústrias do entretenimento e da imaginação coletiva.
2. L. Ron Hubbard: De escritor a fundador da Cientologia Lafayette Ronald Hubbard foi inicialmente um escritor de ficção científica de reputação mediana, até publicar “Dianética” (1950), obra que se tornaria a base para a Igreja da Cientologia. Críticos apontam que sua obra literária não se destacava antes da fundação do movimento religioso. (Urban, 2011)
3. Jack Parsons e o ocultismo tecnológico Jack Parsons, nascido como Marvel Whiteside Parsons em 1914, foi um dos pioneiros da engenharia de foguetes nos Estados Unidos e uma figura enigmática que transita entre os mundos da ciência e do ocultismo. Ele ajudou a fundar o Jet Propulsion Laboratory (JPL) e a Aerojet Engineering Corporation, sendo essencial para o desenvolvimento dos primeiros motores de combustível sólido e líquido nos EUA. Embora não tivesse formação universitária completa, seu talento natural e dedicação à química aplicada o tornaram indispensável para o avanço da propulsão a jato durante os anos 1930 e 40.
Ao mesmo tempo, Parsons mergulhava profundamente nos estudos esotéricos. Era membro da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma sociedade ocultista liderada na época por Aleister Crowley, e seguidor das doutrinas de Thelema. Suas práticas incluíam magia sexual, rituais cabalísticos e invocações com o objetivo de alterar a realidade física por meios espirituais — uma tentativa, segundo ele, de alinhar a ciência com a vontade mágica.
Entre 1946 e 1947, Parsons conduziu com L. Ron Hubbard uma série de rituais conhecidos como Babalon Working, cujo objetivo era invocar uma entidade feminina divina, a “Mulher Escarlate” (ou “Babalon”), com potencial para gerar o “Moonchild” — um ser mágico messiânico descrito nos textos de Crowley. Acreditava-se que esse ser teria um papel transformador na nova era espiritual da humanidade. A participação de Hubbard nesses rituais marcou o início de sua transição da magia cerimonial para a criação do sistema de crenças que se tornaria a Cientologia.
Parsons via a ciência dos foguetes como um meio de ascensão, não apenas física (rumo ao espaço), mas espiritual — uma ponte entre a mente humana, a tecnologia e o cosmos. Sua morte trágica e misteriosa em 1952, durante uma explosão em seu laboratório, encerrou prematuramente essa trajetória. Contudo, seu legado continua influente tanto na história aeroespacial quanto nos estudos sobre a intersecção entre ciência e misticismo.
4. A fuga de Hubbard com Sara Northrup Em 1951, Hubbard fugiu para o México com Sara Northrup, então companheira de Parsons, após envolvimentos pessoais e rituais em conjunto. O evento causou o rompimento entre Parsons e Hubbard, e foi um dos catalisadores do afastamento de Hubbard dos círculos ocultistas tradicionais. (Miller, 1987)
5. A influência de Parsons na química e engenharia Parsons trabalhou com propelentes líquidos e sólidos, incluindo a hidrazina e compostos à base de amônia. Seus avanços contribuíram para o desenvolvimento dos foguetes militares e civis nos EUA. Embora a hidrazina já existisse, Parsons ajudou a viabilizar seu uso prático. (Pendle, 2005)
6. Cultura pop, “Jetsons” e o termo “jet” A popularização da palavra “jet” nos anos 1950-60 está relacionada à era dos jatos (aviões a jato), impulsionada por avanços como os de Parsons. A série animada “The Jetsons” (1962) se inspira nesse otimismo tecnológico, embora não haja ligação direta com Parsons. (Brooks, 2004)
7. Relações especulativas com a Marvel e Tony Stark Embora não haja confirmação oficial, muitos fãs especulam que Jack Parsons tenha inspirado a criação de Tony Stark (Homem de Ferro), dado seu perfil científico, carisma e ligações com tecnologia de ponta. (Daniels, 2008)
8. A conexão com a NASA, SpaceX e contratos governamentais O JPL, cofundado por Parsons, hoje faz parte da NASA. Não há ligações diretas entre a Cientologia e empresas como SpaceX, mas as relações históricas entre empreendedores visionários e o Estado continuam. Elon Musk, por exemplo, representa uma continuidade desse arquétipo. (Vance, 2015)
9. Cientologia e Hollywood L. Ron Hubbard se estabeleceu em Hollywood para alavancar a Cientologia usando a indústria do entretenimento. A proximidade com celebridades, como Tom Cruise e John Travolta, tornou-se uma das estratégias centrais da Igreja. (Reitman, 2011)
10. Katie Holmes, Will Smith e outros famosos Katie Holmes se envolveu com a Cientologia durante seu casamento com Tom Cruise, mas se distanciou após o divórcio. Will Smith, embora nunca tenha sido membro, mostrou interesse e proximidade com membros da religião. (Wright, 2013)
11. Considerações finais As intersecções entre cientistas visionários, ocultismo e cultura pop são mais do que coincidências; refletem a busca humana por transcendência tecnológica, mitos modernos e controle narrativo. Figuras como Jack Parsons e L. Ron Hubbard operaram tanto no campo do concreto quanto do simbólico.
Referências Bibliográficas:
- Brooks, Tim. The Complete Directory to Prime Time Network and Cable TV Shows, 1946-Present. Ballantine Books, 2004.
- Daniels, Les. Marvel: Five Fabulous Decades of the World’s Greatest Comics. Harry N. Abrams, 2008.
- Miller, Russell. Bare-Faced Messiah: The True Story of L. Ron Hubbard. Silvertail Books, 1987.
- Pendle, George. Strange Angel: The Otherworldly Life of Rocket Scientist John Whiteside Parsons. Harcourt, 2005.
- Reitman, Janet. Inside Scientology: The Story of America’s Most Secretive Religion. Houghton Mifflin Harcourt, 2011.
- Urban, Hugh B. The Church of Scientology: A History of a New Religion. Princeton University Press, 2011.
- Vance, Ashlee. Elon Musk: Tesla, SpaceX, and the Quest for a Fantastic Future. Harper Collins, 2015.
- Wright, Lawrence. Going Clear: Scientology, Hollywood, and the Prison of Belief. Knopf, 2013.
A hipótese de que Jack Parsons (Marvel Whiteside Parsons) possa ter inspirado o personagem Howard Stark, o pai de Tony Stark (Homem de Ferro) na Marvel, é plausível como especulação criativa, embora não haja confirmação oficial da editora ou dos criadores.
Aqui estão alguns paralelos que alimentam essa ideia:
🔧 1. Cientista visionário e engenheiro autodidata
- Jack Parsons foi um engenheiro autodidata, alquimista moderno, figura central na fundação da JPL (Jet Propulsion Laboratory) e da indústria de foguetes americana, mesmo sem formação acadêmica formal.
- Howard Stark, nos quadrinhos e filmes da Marvel, é retratado como um gênio inventor, engenheiro e fundador das Indústrias Stark, com conexões profundas com o governo americano e o setor bélico.
🚀 2. Conexão com o complexo militar-industrial e tecnologias futuristas
- Parsons ajudou a desenvolver os primeiros motores de foguetes a combustível sólido e líquido, colaborando com o Exército dos EUA.
- Howard Stark desenvolve armas e tecnologias de ponta, inclusive o reator arc, que posteriormente se torna símbolo do próprio Tony Stark.
🕯️ 3. Elemento esotérico/ocultista (sutilezas narrativas)
- Embora Howard Stark não seja ocultista, a Marvel tem um histórico de incluir simbolismo esotérico em suas narrativas. Parsons, por sua vez, era abertamente envolvido com magia thelêmica, ritualística e misticismo.
- A intersecção entre ciência e ocultismo (frequente em ficções científicas e nos quadrinhos) pode ter inspirado a construção de arquétipos como o de Howard Stark: homens que manipulam forças além da compreensão comum — sejam tecnológicas ou metafísicas.
🎥 4. Cultura retrofuturista e estética dos anos 40–50
- O visual e a ambientação de Howard Stark nos filmes (especialmente em Capitão América: O Primeiro Vingador) remetem fortemente aos anos 1940–50 — a mesma época em que Parsons estava ativo tanto nos laboratórios quanto nos rituais ocultistas.
- Essa estética pulp/retro e o espírito de “ciência de fronteira” estão presentes nas duas figuras.
🧠 Conclusão: inspiração indireta, mas verossímil
Embora Jack Parsons nunca tenha sido oficialmente citado como inspiração, ele representa um arquétipo real que combina genialidade científica, espírito rebelde e um flerte com o oculto — o tipo de figura que certamente influenciou, direta ou indiretamente, a cultura pop e os criadores de personagens como Howard e Tony Stark.
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